O ano eleitoral de 2016 vai começando com um número recorde de partidos: 35 registrados no TSE. São essas siglas – novas, progressistas, populares, socialistas, comunistas, trabalhistas, dos trabalhadores, ecológicas, solidárias, cristãs, liberais, democráticas, democratas, sociais-democratas, ordeiras, republicanas, mobilizadoras, verdes, humanistas, brasileiras ou do Brasil – que se apresentarão em breve ao cidadão nas disputas municipais. O que esperar disso?
Número abundante de partidos não é problema. Nos Estados Unidos são mais de 60, embora a disputa real se dê apenas entre democratas e republicanos. Na Espanha, até pouco tempo atrás, dois partidos, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e o Partido Popular (PP), monopolizavam a vida política. Após uma onda de insatisfação popular, entretanto, passaram a dividir o cenário com dois novos movimentos que se apresentam como alternativas ao quadro tradicional, o Podemos e o Ciudadanos.
A questão não é o número de partidos, mas a que servem. E principalmente, se fazem parte de um sistema político que funciona ou atende a quem deve atender: a população. No caso do Brasil, as três dezenas de legendas que mantêm representação no Congresso Nacional compõem um quadro de fragmentação. Qualquer presidente hoje, seja ele quem for, para governar precisará não de dois ou três partidos, mas de 10 ou mais! Há algo de inviável nisso.
As eleições municipais de outubro próximo serão as primeiras desde o debacle da política partidária brasileira, cuja crise de representação se evidenciou a partir de junho de 2013. Todas as pesquisas de opinião apontam para uma rejeição alta a todas as legendas – cerca de oito em cada dez brasileiros as rejeitam e menos de 1% da população confia neles. Partidos que parecem crescer por osmose, pois foram cinco novas agremiações nos últimos três anos, uma média de um partido a cada sete meses.
No ideograma chinês a palavra crise é sinônimo para perigo e oportunidade, simultaneamente. O perigo, no caso brasileiro, é o excesso de partidos – e de candidatos associados a eles vendendo ideias pré-prontas (o tradicional pacote de saúde, educação etc) – aprofundar cada vez mais o fosso entre o sistema político e a população. Neste cenário a política será, cada vez mais, apropriada por grupos de interesse, principalmente econômicos, que farão dela bom proveito para suas agendas. Para isto, nada melhor do que a política desacreditada, deixada para que “outros” a façam, afinal se trata de coisa suja.
Por outro lado, a oportunidade do cenário fragmentado, ou da atual deslegitimação do sistema partidário, é que, nas eleições que se avizinham, e na falta de lideranças óbvias, as demandas da população possam, quem sabe, vir em primeiro lugar. Ou seja: não importa a roupagem ou a cara do candidato, o que importará é se este de fato apresentará encaminhamentos para os problemas que afetam a vida das pessoas nas cidades. Candidatos que possam expressar os anseios dos eleitores, não como vendedores de promessas ou herdeiros de capitais políticos (estes em falta), mas como possíveis gestores de soluções concretas para problemas reais. O posto de saúde, o ônibus, a escola, o lixo que se acumula.
Quem sabe se não serão das ruínas atuais de um sistema político rejeitado que brotarão as veredas para um futuro melhor?
FONTE: Yahoo Notícias
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