segunda-feira, 3 de abril de 2017

Salvador: Autônomo Aproveita Período de Chuva Para Faturar Renda Extra


Não existe tempo ruim para a criatividade. E disso o baiano entende muito bem. Que o diga o autônomo Antônio Sérgio Silva, 35 anos, que trabalha com carga e descarga de frutas e, quando chove forte, ganha uns trocados extras de forma inusitada na região da Calçada, em Salvador.

Bastou cair o cacau e ele pega sua 'Cinquentinha', na Estrada das Barreiras, onde mora com a família, e parte para a frente do terminal de trens, onde oferece seu serviço de baldeação sobre uma carrocinha - que lhe rendeu o apelido de 'Sérgio da Prancha'. O preço? R$ 1, mas tem conversa. "Uma vez aqui ganhei R$ 36. Às vezes R$ 50, R$ 20", conta ele, que já chegou a faturar R$ 40 em apenas uma hora de aguaceiro.



O carrinho fica no depósito de um colega feirante em São Joaquim, e serve quase que exclusivamente para isso: transportar o povo no alagamento que, ali na Calçada, após um toró, é certo. "Toda vez que chove, que eu sei que vai encher (eu venho). Trabalho mal feito é isso aí. Aí quem paga é a população. E eu ganho um dinheirinho, né?", comenta.

Antônio explicou ao CORREIO que teve a ideia de montar a carroça ao presenciar um alagamento no terminal de Ferry Boat. "Logo me veio (na cabeça) a Calçada, que desde que o mundo é mundo alaga. Foi aí que comprei a base e coloquei os sombreiros. Comecei vindo às vezes, hoje em dia todo mundo me conhece", lembra ele.

O público é variado, mas trabalhadores e estudantes apressados são os clientes mais contumazes. "Tô dando graças a Deus ele ter aparecido, estou ilhado desde cedo. Meu maior medo é meter os pés aí e acabar caindo em um buraco", pontuou o porteiro Robson Oliveira da Silva, 42, que aguardava em frente à estação de trem. "Ele sempre está aqui. Eu só fico preocupado em ver uma pessoa se expondo a tantas doenças, mas, dependendo da situação, faria o mesmo que ele", acrescenta.

Para prestar o serviço, Antônio se arrisca, mesmo sem o adicional de insalubridade. "Se eu tiver, é pior. Eu tenho Jesus, pra que eu vou ter medo? Ele sabe o que eu tô fazendo. Não tô trabalhando errado. É um trabalho honesto. E se pros outros não vale a pena, pra mim vale. Você vê que só eu que estou trabalhando aqui", aponta Sérgio, garantindo que nunca teve qualquer problema de saúde em decorrência do ofício.

Atrasada para uma prova, a estudante de enfermagem Camila Vidal, 21, não hesitou e subiu na prancha de Sérgio. "Claro que vou, ele adianta muito o nosso lado. Já pensou se a gente ficar aqui o dia inteiro esperando essa água toda secar?", disse, ao embarcar. Para ela, porém, são grandes os riscos sofridos pelo autônomo. "Eu que sou da área de saúde entendo o quanto ele está em perigo. Lamentável", conclui.

A viagem também conta com trajetos e distâncias bastante diversificados. "Pode ser aqui do largo (da Calçada) até o mercado Centro Sul. Ou do largo para a estação de trem, ou do módulo policial aqui próximo, do outro lado da calçada", cita Antônio, garantindo que a família sabe do bico.

Investimento de R$ 2 mil

Onde mora, na Estrada das Barreiras, o sistema de escoamento funciona direitinho. Não tem alagamento. "Graças a Deus, moro bem. Eu venho para cá faz alguns meses. Investi mais ou menos R$ 2 mil, contando com alguns reparos, nessa carrocinha aqui e se chover bem em abril, talvez eu ganhe uns R$ 300", calcula.

E é importante que o investimento vingue mesmo. Antônio é casado há quatro anos e tem quatro filhos. Apenas dois moram com ele e a mulher. Os outros dois moram com a primeira companheira, a quem o autônomo tem de pagar pensão. "Pago R$ 160 pelos dois e levo a feira deles. Estou aqui por eles, porque para quem não tem preguiça, o trabalho está aí. É difícil, mas o dinheiro fácil leva a gente pro buraco. Eu não tenho medo de trabalho, graças a Deus", afirma, orgulhoso.

FONTE: Correio*

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